Tuesday, February 20, 2007

A arte do palavrão

Hoje decidi falar do palavrão. Não no sentido de uma palavra de pronúncia difícil, mas aquela de conotação obscena.
Todos sabemos que por questões culturais há certas zonas do nosso país, onde este tipo de linguajar faz parte do quotidiano, talvez por isso não se estranhe a sua utilização em todas as camadas e idades, utilizam-na de uma forma tão natural que não fere os ouvidos mais susceptíveis
É certo que também há círculos profissionais onde este tipo de linguagem se tornou um must, mas neste caso é circunscrito ao local de trabalho, afirmo-o com muito à vontade porque já tive oportunidade de conviver com ele, nem todos são aficionados mas convivem bem com o género.
Eu própria já os disse, daqueles palavrões que até têm pêlos, no momento próprio claro, sim - porque também existem momentos próprios para os palavrões. Até porque todos nós os conhecemos, não é?
Agora, fora destes contextos e sem querer parecer demasiado púdica, soa-me mal, desculpem lá, mas soa, não consigo, muito sinceramente, entender a necessidade de introduzir palavrões de forma gratuita.
Os palavrões na língua inglesa, têm um certo charme, mas os nossos são feios, há que admiti-lo. O mais charmoso dos indivíduos, com um palavrão introduzido na altura errada, é imediatamente vulgarizado, isto é tão verdade para o sexo feminino como para o masculino.
Então e o palavrão na arte da sedução? Uma catástrofe, na minha opinião, qual é a ideia? Não percebo sinceramente, querer parecer muito modernaço, espírito aberto? Hummm, não me parece que funcione. Não me lembro de ter ouvido alguma vez alguém a gabar-se: "ontem conheci fulano(a), disse-me uns palavrões ao ouvido, que me puseram de quatro, acho que estou apaixonada(o)!".
Ah, já sei! O palavrão é próprio de um determinado meio pseudo-intelectual, pá! Consta que Alexandre O'Neill também dizia muitos palavrões. Será que era bem-sucedido na arte da sedução? Será que era o palavrão que seduzia ou a genialidade que o caracterizava?
Não, nada disso, há pessoas que falam mesmo assim no dia-a-dia. Acham mesmo? Também arrotam e cospem no chão e dão livre-trânsito aos seus impulsos flatulentos?
Esperem, outra hipótese: não gostam de guardar esqueletos no armário, por isso chamam as coisas pelos nomes, para estarmos mais à vontade! Mas alguém quer sinceramente saber se têm esqueletos no armário? Quanto mais ser-lhes apresentados!
Enfim, podia perder horas e até dias, a cogitar sobre a arte do palavrão no relacionamento social e profissional, mas acho que vou deixar isso para um projecto a médio prazo: "Tratado do uso do palavrão em Portugal".

Uma Dica: Eu não sou de impor regras de comportamento social às pessoas com quem me relaciono, cada um é como é. Mas quando não gosto ou não me sinto à vontade com algumas atitudes, digo e faço questão que percebam.

Sunday, February 18, 2007

Amizade

Do latim amicitãte, diz-nos o dicionário que amizade significa afeição por uma pessoa, simpatia, dedicação, atracção.
Mas não nos diz o dicionário que a amizade tem uma outra série de implicações, se não vejamos, dificilmente a amizade existe sem um sentimento de reciprocidade, nós não conseguimos sentir afeição por alguém que nos rejeita.
Não falo da amizade subentendida em laços familiares, admito que nalguns casos exista este tipo de afeição, quase masoquista, por pessoas que fora deste contexto não nos provocariam mais do que um reles sentimento de repugnância. Mas alguém terá determinado superiormente, que a família é excepção e por isso não são admitidos juízos de valor acerca deste estranho sentimento de solidariedade que determina as relações familiares.
Quero essencialmente, referir-me à amizade que sela a relação de duas ou mais pessoas que não têm mais nada em comum para além disto, são aquelas que não nos são impostas, em que a génese da democracia funciona na sua plenitude, eu decido de quem gosto e de quem quero ser amiga, tout court.
Porque ao longo da minha vida já estabeleci várias relações deste género, muitas mesmo, sobretudo devido à minha natureza excessivamente extrovertida, já sofri, naturalmente , algumas decepções que vão rareando à medida que avanço na idade. Claro que estou mais exigente e mais intolerante a certo tipo de atitudes.
Os meus verdadeiros amigos, contam-se pelos dedos de uma mão, sabem perfeitamente quem são, que podem contar incondicionalmente comigo e eu com eles, seriam incapazes de ficar com inveja de um sucesso meu ou familiar, muito pelo contrário, ficariam orgulhosos; gostam de me ver feliz, porque isso também contribui para a felicidade deles e nunca, mas nunca, me julgariam sem antes ouvirem atentamente a minha versão sobre determinado acontecimento.
Às minhas amigas e amigos, pessoas tão especiais e fundamentais para o meu equilíbrio emocional, fica esta minha mensagem: "vocês estão e estarão sempre no meu coração, ainda que esteja um mês sem vos fazer um único telefonema".

Uma dica: não vale a pena investirmos em pessoas por quem sentimos alguma dessa atracção, elemento essencial à amizade, quando o sentimento não é recíproco. Mais cedo ou mais tarde vamos acabar por ter uma decepção, é um risco demasiado previsível para um investimento desta natureza.

Wednesday, February 14, 2007

O meu gabinete de trabalho


Confesso que a actividade laboral não é propriamente um assunto prioritário neste "sitio".
Mas não posso deixar de falar do meu gabinete, quem me conhece bem sabe perfeitamente onde trabalho e não é disso que estamos a falar, falamos de ambiente.
Embora tenha tido imensos problemas de adaptação, o meio é complicado, a verdade é que trabalho numa sala com pessoas extraordinárias e duvido que no universo da minha instituição, haja outra assim.
Na verdade quem abre a porta sem pré-aviso, arrisca-se a encontrar uma destas situações: as raparigas ensaiam passos de dança, regra geral de músicas dos anos 80 ou anteriores, sempre sob o olhar babado dos rapazes; decorre uma acalorada discussão, pode ser sobre política ou questões sociais ou porque o Pedro nesse dia está para aí virado; pode deparar-se com uma "desgarrada" de diferentes tipos de música, normalmente ocorre quando o Ezequiel insiste em ouvir música clássica mais alto; pode estar alguém a chorar porque nesse dia está mais sensível, agora acontece mais com a João que está à espera de bebé; uma criança pequena com ar de reguila que insiste que é o homem aranha, quando a Xana leva o seu rebento; a Patrícia a refilar comigo porque saí no momento exacto em que toda a gente me decidiu ligar; todos sossegadinhos e concentrados cada um no seu cantinho ou em gargalhada colectiva o que para quem entra é realmente constrangedor.
Para além de um disfarçado "vocês são meio loucos, não são?", nunca ninguém me disse o que pensa quando se ouvem as nossas gargalhadas ou cantorias, fora de portas, ou quando ao fim do dia se fazem corridas no longo corredor encerado, ou quando o Ezequiel, farto de me ouvir, decide empurrar-me porta fora sentada na minha cadeira de secretária, e decide ir passear-me até ao elevador. Mas também nunca ninguém nos chamou à atenção ou nos mandou calar, é um facto. Provavelmente porque a nossa loucura acaba por manter um equilíbrio harmonioso num local que, por tradição, é cinzento.
Agora que, por motivos de força maior, perdemos a Patrícia, antes que mais alguém saia, não queria de deixar de vos dizer: "I love you all, guys".

Uma dica: as relações pessoais no trabalho são, regra geral, muito complicadas. Por norma não escolhemos quem queremos para parceiro de sala, somos impostos uns aos outros, resta-nos a vontade de encontrarmos pontos comuns em cada um, o que como em todas as relações pode significar cedências de parte a parte. Mas é o suficiente para um ambiente de trabalho mais harmonioso, acreditem.

Tuesday, February 13, 2007

Namorados


Hoje, porque é dia dos namorados, lembrei-me de dedicar uma mensagem especial ao meu primeiro namorado, com quem casei, com quem continuo a namorar há mais de 20 anos.
Porque é uma pessoa muito especial, que me deixou entrar no seu mundo de banda desenhada, em que mergulhou algures na infância e de onde nunca mais saiu.
Pois, o Pedro é mesmo assim, vive no mundo da fantasia, a 200 à hora, qualquer coisa fora dessa realidade é completamente irrelevante, a não ser a família, por quem tem uma dedicação absoluta.
Quando o conheci, o Pedro era um autêntico príncipe que me fascinou desde o primeiro minuto, além de ser um homem lindíssimo, tinha um sentido de humor excepcional, era mesmo arrebatador e imaginem: eu casei com ele, para inveja de muitas "bruxas".
Passados estes anos todos, o Pedro continua a ser um homem muito interessante, com um sentido de humor ainda mais apurado, revelou-se um pai excepcional e apaixonadíssimo, faz de mim uma pessoa ainda mais especial, a cada dia que passa.
Porque nunca é de mais dizermos o óbvio, aqui fica a minha apaixonada declaração a um dos homens que dá sentido à minha vida.

Uma dica: amigas, o que há mais por aí são príncipes encantados, o risco é transformarem-se em sapos depois do primeiro beijo, é importante saber medir o risco.

Saturday, February 10, 2007

A mulher "Ideal"

O que é isto da mulher "ideal"?
Numa troca de palavras entre família, percebi que choquei marido e filhos, apenas porque, aparentemente, assumi uma postura mais agressiva do que é normal.
Agressiva porquê?
Porque provavelmente me senti em minoria, eles são três, e para me fazer ouvir tive que falar mais alto e porque me irritaram, fiz um comentário mais cruel.
Na verdade, passada e resolvida a questão, percebi que eles não gostaram de ouvir uma opinião diferente, neste caso, com uma forte conotação feminina, porque era isso que estava em causa: o ponto de vista feminino versus o masculino.
Mas fiquei triste, sobretudo porque percebi que eles não gostam que as mulheres tenham opinião, a não ser que seja a deles, claro.
A mulher ideal é, por isso, aquela: que cozinha, que mantém a casa organizada, que trabalha, que se lembra dos aniversários de toda a família, que tem sentido de humor, que é carinhosa e bem disposta, que tem visual arranjado e, sobretudo, a que apoia com bons argumentos as opiniões dos parceiros - difícil?
Nem por isso, para nós é rotina, para eles seria um missão IMPOSSÍVEL.
Já agora e para que fique registado nós, as mulheres, gostamos de homens organizados, que tenham gosto pelo visual, que sejam carinhosos connosco e com os nossos filhos, que sejam simpáticos com as nossas amigas, mesmo que as achem umas parvas, que tenham sentido de humor, que usem perfume, que façam a barba, pelo menos de dois em dois dias, e acima de tudo, se mostrem solidários nos momentos difíceis - muito mais fácil, não?
Claro que não, eu sei que é muito difícil satisfazermos o outro, mas também não custa nada tentar e fazer o esforço.

Uma Dica - a harmonia familiar é uma meta nem sempre fácil de atingir, mas que todos nós desejamos. Por isso, o melhor talvez seja procurarmos equilibrar o jogo de forças, nem que para isso tenhamos que "fingir" que cedemos, mas é a única forma de não vivermos em conflito permanente.

Sunday, February 4, 2007

Mãe Babada















Pois sou uma mamã absolutamente babada.
Porque tenho um filho excepcional, que me mima com os seus beijos inesperados, não quero deixar de lhe dedicar uma mensagem especial nesta minha experiência na "blogosfera".
Há uns anos, quando partilhava com alguém a minha tristeza, porque o André, apenas com 9 anos tinha decidido ir para o Colégio Militar, afastando-me consideravelmente do seu quotidiano, disseram-me que: "ser mãe é morrer todos os dias um bocadinho".
A frase, devidamente fundamentada, veio de uma respeitável Senhora, que muito admiro, com muitos mais anos de experiência de mãe do que eu. Hoje, com a experiência que entretanto acumulei e desenvolvi, dir-lhe-ia, Dra Aline: "ser mãe é renascer todos os dias, um bocadinho".
Agora que o André já atingiu a respeitável idade de 21 anos, tornando-se num jovem responsável, com objectivos definidos; agora que a confusão deu lugar à certeza, que a tortura dos testes de matemática foi substituída pelo desafio das orais de direito, que as jogatanas de futebol na escola, deram lugar às tertúlias de café, olho para ele e sinto um orgulho enorme pelo ser humano em que se transformou.
Não estou nada arrependida de o ter apoiado em decisões insólitas, como a do Colégio Militar em tão tenra idade, quando a maior parte das pessoas dizia que crianças com aquela idade não tomam decisões. Depois a opção da área de ciências, sem queda nenhuma para a matemática e mais tarde a opção do Direito, com previsões de sucesso muito improváveis, tendo em conta os hábitos de estudo que revelava até aí.
A verdade é que o André surpreendeu tudo e todos e uma vez que o irmão tem menos 11 anos, a minha questão, neste momento, é: "será que sou capaz de voltar a fazer o mesmo?", ou melhor:"como é que eu fiz?"
Julgo que a resposta é: descontrair o mais possível e ultrapassar uma etapa de cada vez.
Uma dica: não vale a pena projectarmos nos nossos filhos, aquilo que, em tempos, desejámos para nós próprios, o mais certo é estarmos a projectar uma decepção, o que não vai certamente contribuir, nem para a felicidade deles nem para a nossa.