Wednesday, February 14, 2007

O meu gabinete de trabalho


Confesso que a actividade laboral não é propriamente um assunto prioritário neste "sitio".
Mas não posso deixar de falar do meu gabinete, quem me conhece bem sabe perfeitamente onde trabalho e não é disso que estamos a falar, falamos de ambiente.
Embora tenha tido imensos problemas de adaptação, o meio é complicado, a verdade é que trabalho numa sala com pessoas extraordinárias e duvido que no universo da minha instituição, haja outra assim.
Na verdade quem abre a porta sem pré-aviso, arrisca-se a encontrar uma destas situações: as raparigas ensaiam passos de dança, regra geral de músicas dos anos 80 ou anteriores, sempre sob o olhar babado dos rapazes; decorre uma acalorada discussão, pode ser sobre política ou questões sociais ou porque o Pedro nesse dia está para aí virado; pode deparar-se com uma "desgarrada" de diferentes tipos de música, normalmente ocorre quando o Ezequiel insiste em ouvir música clássica mais alto; pode estar alguém a chorar porque nesse dia está mais sensível, agora acontece mais com a João que está à espera de bebé; uma criança pequena com ar de reguila que insiste que é o homem aranha, quando a Xana leva o seu rebento; a Patrícia a refilar comigo porque saí no momento exacto em que toda a gente me decidiu ligar; todos sossegadinhos e concentrados cada um no seu cantinho ou em gargalhada colectiva o que para quem entra é realmente constrangedor.
Para além de um disfarçado "vocês são meio loucos, não são?", nunca ninguém me disse o que pensa quando se ouvem as nossas gargalhadas ou cantorias, fora de portas, ou quando ao fim do dia se fazem corridas no longo corredor encerado, ou quando o Ezequiel, farto de me ouvir, decide empurrar-me porta fora sentada na minha cadeira de secretária, e decide ir passear-me até ao elevador. Mas também nunca ninguém nos chamou à atenção ou nos mandou calar, é um facto. Provavelmente porque a nossa loucura acaba por manter um equilíbrio harmonioso num local que, por tradição, é cinzento.
Agora que, por motivos de força maior, perdemos a Patrícia, antes que mais alguém saia, não queria de deixar de vos dizer: "I love you all, guys".

Uma dica: as relações pessoais no trabalho são, regra geral, muito complicadas. Por norma não escolhemos quem queremos para parceiro de sala, somos impostos uns aos outros, resta-nos a vontade de encontrarmos pontos comuns em cada um, o que como em todas as relações pode significar cedências de parte a parte. Mas é o suficiente para um ambiente de trabalho mais harmonioso, acreditem.

1 comment:

P@t said...

"Agora que, por motivos de força maior, perdemos a Patrícia..." só gostaria de dizer que a notícia da minha morte foi um exagero - estou viva e adoro-vos!! Só fui para o gabinete ao lado. Beijinho boommm!!!